A pressão da família, dos amigos e da sociedade de modo geral para que o adolescente conquiste uma vaga no ensino superior e o esforço que ele empreende para atender a essas expectativas podem comprometer todo o seu desenvolvimento afetivo e social.
A afirmação é da Pedagoga Fátima Freire, 35 anos, orientadora da Escola Poço do Visconde e formada em Psicopedagogia no Instituto Jean Piaget, de Genebra, Suíça. Segundo ela, a competição imposta aos jovens e a ideologia de valorização apenas do intelecto os transformam em "pessoas robotizadas", incapazes de desenvolver seu lado emocional. A concorrência entre jovens e até entre crianças em idade pré-escolar ( muitas escolas particulares fazem exames de seleção para admissão de crianças na primeira série do primeiro grau) faz deles "meros instrumentos competitivos, que dedicam suas vidas ao desenvolvimento de sua capacidade intelectual, bloqueando todo o resto".
Fátima diz que os pais que estimulam seus filhos a serem " vencedores" a qualquer custo "sobrecarregam o adolescente de expectativas. Se ele não se destaca, torna-se inseguro e começa a se desacreditar. A família deve acreditar no filho, confiar que ele é capaz de ter um desempenho de acordo com seu processo de aprendizado".
"A competição, mesmo em termos de inteligencia, é muito esterilizante, porque o sucesso significa a derrota de muitos"- afirma João Carlos Azevedo Jacobsen, 32 anos, formado em Psicologia Genética Experimental, também em Genebra. Para ele, o sistema de avaliação por notas, classificação e concorrência adotado no ensino brasileiro é uma falta de respeito para com o estudante: " É a valorização do desempenho da pessoa em determinado momento de sua vida, sem levar em conta o processo de aprendizado dela. O que interessa é apenas o resultado".
Nesse clima todo é natural que os jovens lutem incansavelmente pelos primeiros lugares. Jacobsen acrescenta: "É como se todos estivessem repetindo para o jovem: 'Você só tem valor se for vitorioso, ou seja, você só será amado se tiver sucesso'. Essas pressões tornam o adolescente um egocêntrico especializado em sucesso. Com isso, ele sai perdendo os benefícios que poderia ter com a troca intelectual e a social de seus conhecimentos".
Os exames de seleção existem, a concorrência também. Então a melhor maneira de fazer com que as crianças não saiam tão deformadas desse processo todo é, antes de tudo, "encará-las como sujeitos e nuca como objetos e, muito menos como os objetos das frustrações e fracassos que os pais experimentaram e dos quais tentam se reabilitar através dos filhos" - finaliza Fátima Freire.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia. 18 ed.São paulo, editora ática, 1997.